quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carta aberta à José Dirceu

"Em virtude da vinda do ex-ministro José Dirceu ao Amapá, quero ter a oportunidade de me dirigir a um dos homens que estiveram no epicentro de uma das maiores crises política do PT e do sistema político brasileiro."

Caro José Dirceu,

O senhor é sabedor de que a estratégia adotada pelo ex-campo majoritário do PT, da qual você faz parte, se tornou responsável pelo rebaixamento programático do PT, onde nosso partido fez concessões políticas de seu programa, por conta da defesa de alianças com setores do grande empresariado e com partidos tradicionais da política brasileira.

A "Carta ao Povo Brasileiro", foi a expressão de que o governo Lula não iria romper os grilhões históricos, que fazem com que nosso povo permaneça pobre, mantendo compromissos promíscuos com a burguesia antinacionalista, que controla o poder político e econômico nesse país. No entanto, o povo brasileiro reconhece os avanços obtidos no governo Lula, que já é considerado o melhor governo da história desse país.

Não posso deixar de reconhecer a sua contribuição na história do PT e da esquerda brasileira, o que também não me proibi de tecer algumas críticas ao senhor. Diante disso, quero também colocar algumas posições políticas que acho importante o senhor ter conhecimento, no que tange a conjuntura estadual, a atual situação do PT e da esquerda amapaense.

O senhor é sabedor que o PT está na base de sustentação política do desgoverno de Waldez Góes? Governo este que é um dois maiores inimigos do povo amapaense, da juventude, da classe trabalhadora e dos setores explorados e excluídos da sociedade amapaense.

O senhor deve ser sabedor que o PT em 2006 teve candidatura própria ao governo do estado, resolução aprovado em encontro estadual, onde o companheiro Errolflyn Paixão disputou a eleição como candidato "laranja", sendo mais um instrumento de uso e serviçal dos interesses de setores e personalidades de dentro do partido, que não poderiam jamais, deixar de apoiar a reeleição do governador Waldez Góes e do senador e coronel José Sarney.

O senhor é a referência intelectual das atuais lideranças da corrente CNB, da qual você faz parte, e várias lideranças do PT que dirigem o partido no estado fazem parte. Por isso, tenho certeza que todos deveriam fazer uma grande reflexão sobre a atual crise organizativa e de identidade que o PT do Amapá vive.

Não podemos ver o povo amapaense sofrendo, enquanto temos um presidente que consegue obter conquistas sociais históricas, fatos vistos em números, enquanto no Amapá isso não é uma realidade para a população carente do estado. O PT não pode mais continuar sendo base de sustentação de um governo e de um grupo de poder que é marcado pela corrupção, tráfico de influência, depreciação do patrimônio público e desrespeito ao Estado Democrático de Direito.

O atraso social é visto em nosso IDH, que é um dos piores do país, na escassez de água encanada, na falta de política públicas para a juventude, que é a maioria da população carcerária na penitenciária do estado.

A corrupção pode ser vista nas operações da Polícia Federal, nas prisões de políticos ligado à Waldez e Sarney, nos desvios de recursos federais das obras do aeroporto e no assalto aos cofres públicos pelo grupo de poder que controla o estado.

Se não bastasse, temos que tolerar e ver lideranças do PT abraçadas com o oligarca Sarney e com o coronel da mídia amapaense, o senador Gilvam Borges, ambos do PMDB, o partido do fisiologismo e um dos campões em corrupção política no Brasil.

Diante disso, vejo que o senhor deveria fazer uma autocrítica sobre essa estratégia que o PT vem adotando desde 1995, quando o senhor assumiu a presidência do PT nacional e conseqüentemente junto com a sua corrente política impuseram um rebaixamento programático de nosso partido.

Esse rebaixamento se reflete no Amapá, na atual situação política do PT, que exige uma nova direção e mudanças radicais em nossa estratégia, que terá como eixo principal ter candidaturas próprias ao senado e ao governo do estado.

Sabemos que o Amapá não tem peso eleitoral nacionalmente, mas o PT local pode vir a contribuir muito com o futuro governo do PT em 2011 e a eleição da primeira mulher presidenta da república, dando sustentabilidade política no congresso, derrotando a atual política de governabilidade, que nos torna refém das velhas raposas da política brasileira.

Em 2008, o PT conseguiu obter vitórias importantes nas eleições municipais, elegendo três prefeituras no estado. Em Santana, o segundo maior colégio eleitoral do estado, conseguimos derrotar as candidaturas bancadas por Sarney, Waldez e seu grupo de poder , que tentaram orquestrar, aliados à mídia local, uma derrota eleitoral ao PT, não conseguindo obter êxito.

O PT saiu vitorioso na segunda maior cidade do Amapá, derrotando todos os poderosos do estado, demonstrando que o nosso partido pode continuar sendo uma referência de esquerda e uma alternativa de projeto para esse estado em 2010.

Em Macapá, o resultado foi diferente, pois sofremos uma grave derrota política, fruto da estratégia defendida pela CNB, corrente que o senhor faz parte. Essa política engessou o partido, nos afastando dos movimentos sociais, da intelectualidade e dos setores progressistas.

Diante disso, estamos lutando para reconstruir a imagem do PT no estado, o que exige a tarefa de reoxigenarmos o debate político nas fileiras do partido. Mas sabemos que essa tarefa não será fácil, pois haverá muita resistência no núcleo duro que controla nossa estrela.

Portanto, dianto dos fatos, quero dizer que este é o momento de nós darmos a volta por cima, mudar o PT, transformando a vida do povo. Esse é o momento de nós reorganizarmos o campo democrático popular no Amapá, construindo uma grande Frente Popular para derrotar as oligarquias locais, o projeto de poder da direita, sustentado por Sarney e Waldez, demonstrando que o PT pode ser sim, uma alternativa de mudanças para esse estado.

Heverson Castro - membro do Diretório Municipal do PT

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O papel da esquerda e uma Frente Popular para 2010

A Frente Popular foi uma prática política surgida a partir da década de 30, que implicava na formação de uma coalização temporária entre a classe operária, organizada em partidos e sindicatos comunistas e social-democratas, por um lado, e parte da pequena e média burguesia democrático-liberal, por outro, com o objetivo de conquistar uma maioria parlamentar para realização de um programa conjunto.

Orientada de inicio contra as ameaças nazi-fascistas, foi também organizada para por fim ao poder da burguesia conservadora e seus aliados, na defesa da democratização econômica e política de determinada formação social.

A Frente Popular, sem constituir-se num movimento revolucionário, atuou nos marcos da legalidade, buscando a participação mais ampla das camadas populares no processo de decisão econômica e política, cuja estratégia é a consolidação e estabilização da democracia parlamentar e da economia capitalista.

Em alguns países, a Frente Popular possibilitou a ascensão ao poder das forças de esquerda, como na França em 1934 sob o governo presidido por Léon Blum, na Espanha em 1935-36 do governo Alcalá Zamora, e no Chile em 1970 com a vitória eleitoral de Salvador Allende.

É claro que o debate de se construir uma Frente Popular deve ser atualizado e adaptado para a atual conjuntura estadual. Nesse sentido essa frente, que será formado por partidos de esquerda e progressistas, movimentos populares, sindicatos, Centrais Sindicais, setores da classe média, movimentos populares, estudantis e a nossa intelectualidade, deve ser alvo de um grande debate na esquerda amapaense.

O debate de enfrentamento, também se dará com as novas formas de organização, que questionem a hegemonia da mídia oligarca. É onde entra o fortalecimento das mídias alternativas: jornais, blogs, sites, twitter e todas as ferramentas da internet que estejam em sintonia com o debate de democratizar a comunicação. É preciso não esquecer o papel importante das rádios comunitárias e de instrumentos de agitação e propaganda de rua, que deverão estar afinados com as mobilizações de ruas contra a direita local.

A Frente Popular deverá ter como tarefa principal unir as diversas forças de oposição para as eleições de 2010, tendo como foco o programa de derrotar o projeto da direita, alicerçado no governo Waldez e bancado por Sarney.

As forças de oposição devem avançar no debate sobre a Frente Popular com partidos e forças políticas que tem posições divergentes, mas que do ponto de vista local, podem e devem estar inserido em um programa que derrote a atual hegemonia da direita construída a partir do parlamento (camara, senado e assembleia), do executivo (governo e prefeituras), judiciário e a imprensa conservadora, que propagandeia e defende esse projeto de poder.

Na atual conjuntura as forças de esquerda encontram-se dispersas e sem a mínima unidade, tendo setores importantes cooptados pelo grupo de poder que controla o estado. Isso deve ser alvo de reflexão, tentando aliar as divergências ideológicas, sem perder o foco de sairmos vitoriosos em 2010.

Nesse sentido, os partidos de esquerda que terão candidaturas nacionais, que estarão em enfrentamento, deverão ter a maturidade política, de saber que o Amapá é uma exceção e que aqui é mais difícil derrotar Sarney, Waldez e as oligarquias locais. Temos que refletir, percebendo o papel que esses senhores desempenharam nas eleições de 2008.

Em 2008, a direita conseguiu vencer no poder econômico a prefeitura da capital e sofreram uma grande derrota para a esquerda em Santana, onde o PT saiu vitorioso em uma aliança com o PSB, PCdoB, PMN e outros partidos, defendendo um programa de centro-esquerda. Ganharam no dinheiro a capital, sofreram uma grave derrota política e perderam o segundo maior colégio eleitoral do estado.

Diante disso, devemos colocar o restante do ano de 2009 e inicio de 2010, como um período de mobilizações sociais e acúmulo de forças. Assim, a Frente Popular terá como tarefa central:

  1. Formular um Programa de Governo Democrático e Popular que será apresentado e discutido com o povo do Amapá em 2010.
  2. Derrotar a hegemonia política do grupo de poder que controla o executivo e o legislativo. Hoje esse grupo de poder tem o apoio incondicional da mídia conservadora e de amplos setores do judiciário, o que torna essa tarefa mais difícil, precisando de muito embate ideológico e mobilização social.

Heverson Castro - é membro do Diretório Municipal do PT